A expressão "ouvidos de mercador" significa fingir que não ouve; fazer-se de desentendido; não querer ouvir; não prestar atenção; não dar importância. Não se sabe ao certo como surgiu. Uma das hipóteses é por não querer ouvir a pechincha do comprador, o mercador se fazia de surdo, de desentendido. A outra é a distorção da palavra "marcador", carrasco que marcava os condenados com ferro em brasa e levava à cabo a missão sem ouvir as súplicas e os gritos de dor dos castigados. O sentido em ambos os caso é idêntico: indiferença! A expressão é cada vez mais atual quando se trata de questões ambientais. A maioria faz de conta que não vê. Finge não entender. Não tem interesse em prestar atenção e, tampouco dá importância. Por outro lado, os sinais são inúmeros, mas a legião de cegos, mudos e desentendidos só cresce. Dia desses, os noticiários repercutiram o problema de desabastecimento de água em Gramado e Canela devido a superlotação de turistas.
As causas são a falta de investimentos em saneamento que é aquém à exploração imobiliária e a indústria do turismo. Todos querem ganhar dinheiro e vender mais. Não raramente, são os mesmos que se queixam das consequências, porém esquecem que a toda ação corresponde uma reação de mesma intensidade e sentido contrário. Diz a física, é só ouvir! Se há uso de água, há esgoto que, na maioria das vezes, é ligado na rede pluvial, contribuindo para poluir rios, lagos, solo. E os incêndios florestais na Califórnia? Nunca foram tão intensos e tão violentos. A explicação é o aquecimento global. A temperatura da Terra está aumentando, porém a maioria está nem aí. A solução para as questões ambientais está na mudança de atitude. Mudar não exige lei. Claro que a lei ajuda, pois ao sentir no bolso, a mudança vem mais rápida. Está aí o exemplo do uso do cinto de segurança e do beber e dirigir.
Bastaram as multas serem elevadas e a fiscalização mais eficiente para que o "aprendizado" fosse assimilado rapidamente. O Brasil é o quarto país mais poluidor e está na iminência de abandonar o Acordo de Paris, a exemplo do que fez os Estados Unidos, o maior poluidor do planeta. É essencial a redução das emissões de gases de efeito estufa. Políticas públicas e o incentivo ao uso de energia limpas, como solar, eólica e biomassa são urgentes em substituição às fontes tradicionais, petróleo e carvão. Os avisos enviados ao Brasil são catastróficos. São Paulo e Rio de Janeiro sofreram recentemente com chuvas que causaram horror e mortes. As pesquisas mostram que a causa destes fenômenos é a ação do homem. O meio ambiente agoniza, grita e dá sinais inquestionáveis de destruição, no entanto, há governos e cidadãos que entendem que crescimento econômico e meio ambiente são excludentes e fazem ouvidos de mercador para estes sinais. Alguns lembretes: a maioria dos danos é irreversível! Não tem volta! Vivemos em um planeta finito!